quarta-feira, 19 de maio de 2010

Programação Abril – Julho 2010

.

 

PERFILADOS DE MEDO

 

Perfilados de medo, agradecemos

o medo que nos salva da loucura.

Decisão e coragem valem menos

a vida sem viver é mais segura.

 

Aventureiros já sem aventura,

perfilados de medo combatemos

irónicos fantasmas à procura

do que não fomos, do que não seremos.

 

Perfilados de medo, sem mais voz,

o coração nos dentes oprimido,

os loucos, os fantasmas somos nós.

 

Rebanho pelo medo perseguido,

já vivemos tão juntos e tão sós

que da vida perdemos o sentido.

 

ALEXANDRE O’NEILL

Poemas com Endereço, 1962

 

É com o Portugal inquisitorial e salazarista do "Natal 71" que abrimos, em Abril, a programação quadrimestral do Cineclube.

Convocamos o poema "Perfilados de Medo" do Alexandre O’Neil para esta reflexão que suscitamos sobre o que fomos e o que somos.

Temos um grande plano sempre presente nos quatro filmes a apresentar. A nossa marca. Sempre com o cinema em português, rasgamos o olhar ao medo e à sujeição, à impotência e ao conformismo, à traição e à mentira, mas também à resistência e consciência social, ao orgulho e á altivez de seres de vontade indómita e finalmente aos desejos que nessa noite escura nos são falsamente permitidos satisfazer.

Podemos dizer que "vivemos como crianças perdidas as nossas aventuras incompletas" como nos faz o favor de lembrar alguém, um conhecido e perverso desmancha-prazeres.

Mas há um clube onde tudo é permitido. Em directo e ao vivo. Isto é directamente vivido. Pelas mãos da Margarida, da Rita, da Teresa e da Raquel vamos chegar a esse limiar.

_



7 de Abril, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)

 


clip_image001[4]


NATAL 71 de MARGARIDA CARDOSO

 

Portugal, 2000, 57’, M/12

 

DOCUMENTÁRIO


Sinopse
_

Natal 71 é o nome de um disco oferecido aos militares em guerra no Ultramar português nesse mesmo ano. Cancioneiro do Niassa é o nome que foi dado a uma cassete áudio, gravada clandestinamente por militares ao longo dos anos de guerra, em Moçambique. Era o tempo em que Portugal era um grande império colonial pelo menos era o que eu lia nos livros da escola - e para que assim continuasse, o meu pai e grande parte da sua geração combateu nessa guerra, que durou treze anos. Hoje transportamos, em silêncio, essas memórias. Olho para trás e tento ver. Em casa do meu pai encontrei algumas fotografias, a cassete e o disco. A cassete é uma voz de revolta, o disco é uma peça de propaganda nacionalista. São memórias de uma ditadura fascista. Memórias de um país fechado do resto do mundo, pobre e ignorante, adormecido por uma propaganda melosa e primária que nos tentava esconder todos os conflitos, e que nos impedia de pensar e de reconhecer a natureza repressiva do regime em que vivíamos.

 

Margarida Cardoso

_



4 de Maio, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)

 

image

 

FRÁGIL COMO O MUNDO de RITA AZEVEDO GOMES

 

Portugal, 2000, 90’, M/12

Sinopse
_

"Terror de te amar num sítio

tão frágil como o mundo."

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

Com título e epígrafe colhidos num poema de Sophia de Mello Breyner, "FRÁGIL COMO O MUNDO" foi a segunda longa-metragem de Rita Azevedo Gomes. Um universo poético muito pessoal, filmado num preto e banco austero mas sempre rigorosamente composto (fotografia de Acácio de Almeida), para uma história que é um pouco como o encontro dos magoados adolescentes dos filmes de Nicholas Ray com o lirismo sanguíneo de Werner Schroeter.

com
Maria Gonçalves, João Bruno Terra, Sophie Balabanian, Carlos Ferreira, Manuela de Freitas, Duarte de Almeida (João Bénard da Costa)

_



1 de Junho, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)

 

clip_image003[4]


TRÊS IRMÃOS de TERESA VILLAVERDE

 

Portugal, 1994, 108’, M/12


Sinopse
_

Lisboa nos anos noventa. Três irmãos, dois rapazes e uma rapariga, Maria.

Maria é o centro da nossa história. Tem vinte anos, mas não consegue comportar-se como a maioria das pessoas da sua idade. Quase nunca diz o que pensa, nem pede o que quer. Quase nunca diz a verdade embora nunca minta. Mata e não diz que matou. Sofre e não diz que sofreu. Não quer estar sozinha, mas não pede companhia. Ama, mas não sabe quem ama. Nasceu em Lisboa e nunca foi nem irá a outra cidade.

Maria quer estar sempre com os seus irmãos, mas não pode, porque o mundo não foi organizado assim. Maria quer aguentar tudo sozinha. Quer ser forte, tomar conta de todos. Guardar todos os segredos, os seus e os dos outros. Não é capaz, a dor é muito grande e ela não aguenta. Tem a polícia atrás dela, deixou de ter emprego. Tem de tomar conta do pai, alguém morreu e ela guardou segredo e tratou de tudo sozinha. No fim Maria toma uma decisão. É uma decisão brutal e definitiva.

Não é alegre esta história, mas às vezes a vida também é assim.


com Maria de Medeiros, Marcello Utghege, Laura Del Sol, Mireile Perrier, Evegni Sidihin, Olimpia Carlist, Fernando Reis Júnior, Luís Miguel Cintra

_


 

7 de Julho, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)

 

clip_image004[4]


VENENO CURA de RAQUEL FREIRE

 

Portugal, 2008, 100’, M/16


Sinopse
_

Segunda longa-metragem de Raquel Freire, depois de "Rasganço". "Veneno Cura" fala de um Porto em que se morre de amor e onde há um clube, o Imperatriz, onde tudo é permitido. Um momento em que todos se cruzam na noite escura.

Há um momento em que todos nos cruzamos. Na noite escura. Quando perdes tudo o que há para Perder, o que é que te faz continuar? O teu pior? O teu melhor? O que te impede de te atirares da ponte na primeira oportunidade? O que és capaz de fazer para sobreviver à mais terrível das dores? Amas com as tripas de fora. O que és capaz de fazer por amor? Como é que sobrevives com o coração partido? Quanto tempo dura um sentimento? Tem prazo? Já morreste de amor? Não se pode viver sem amor. O amor salva. O amor mata. O amor cura. Há um Porto onde se morre de amor. Há um clube onde tudo é permitido. Imperatriz. Vem.


com Sofia Marques, Susana Vidal, Sandra Rosado, Miguel Moreira, João Garcia Miguel, Gonçalo Amorim, Ana Ribeiro, Ana Margarida Carvalho

_

Sem comentários :

Enviar um comentário