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PERFILADOS DE MEDO
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido.
ALEXANDRE O’NEILL
Poemas com Endereço, 1962
É com o Portugal inquisitorial e salazarista do "Natal 71" que abrimos, em Abril, a programação quadrimestral do Cineclube.
Convocamos o poema "Perfilados de Medo" do Alexandre O’Neil para esta reflexão que suscitamos sobre o que fomos e o que somos.
Temos um grande plano sempre presente nos quatro filmes a apresentar. A nossa marca. Sempre com o cinema em português, rasgamos o olhar ao medo e à sujeição, à impotência e ao conformismo, à traição e à mentira, mas também à resistência e consciência social, ao orgulho e á altivez de seres de vontade indómita e finalmente aos desejos que nessa noite escura nos são falsamente permitidos satisfazer.
Podemos dizer que "vivemos como crianças perdidas as nossas aventuras incompletas" como nos faz o favor de lembrar alguém, um conhecido e perverso desmancha-prazeres.
Mas há um clube onde tudo é permitido. Em directo e ao vivo. Isto é directamente vivido. Pelas mãos da Margarida, da Rita, da Teresa e da Raquel vamos chegar a esse limiar.
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7 de Abril, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)
NATAL 71 de MARGARIDA CARDOSO
Portugal, 2000, 57’, M/12
DOCUMENTÁRIO
Sinopse
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Natal 71 é o nome de um disco oferecido aos militares em guerra no Ultramar português nesse mesmo ano. Cancioneiro do Niassa é o nome que foi dado a uma cassete áudio, gravada clandestinamente por militares ao longo dos anos de guerra, em Moçambique. Era o tempo em que Portugal era um grande império colonial pelo menos era o que eu lia nos livros da escola - e para que assim continuasse, o meu pai e grande parte da sua geração combateu nessa guerra, que durou treze anos. Hoje transportamos, em silêncio, essas memórias. Olho para trás e tento ver. Em casa do meu pai encontrei algumas fotografias, a cassete e o disco. A cassete é uma voz de revolta, o disco é uma peça de propaganda nacionalista. São memórias de uma ditadura fascista. Memórias de um país fechado do resto do mundo, pobre e ignorante, adormecido por uma propaganda melosa e primária que nos tentava esconder todos os conflitos, e que nos impedia de pensar e de reconhecer a natureza repressiva do regime em que vivíamos.
Margarida Cardoso
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4 de Maio, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)
FRÁGIL COMO O MUNDO de RITA AZEVEDO GOMES
Portugal, 2000, 90’, M/12
Sinopse
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"Terror de te amar num sítio
tão frágil como o mundo."
Sophia de Mello Breyner Andresen
Com título e epígrafe colhidos num poema de Sophia de Mello Breyner, "FRÁGIL COMO O MUNDO" foi a segunda longa-metragem de Rita Azevedo Gomes. Um universo poético muito pessoal, filmado num preto e banco austero mas sempre rigorosamente composto (fotografia de Acácio de Almeida), para uma história que é um pouco como o encontro dos magoados adolescentes dos filmes de Nicholas Ray com o lirismo sanguíneo de Werner Schroeter.
com Maria Gonçalves, João Bruno Terra, Sophie Balabanian, Carlos Ferreira, Manuela de Freitas, Duarte de Almeida (João Bénard da Costa)
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1 de Junho, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)
TRÊS IRMÃOS de TERESA VILLAVERDE
Portugal, 1994, 108’, M/12
Sinopse
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Lisboa nos anos noventa. Três irmãos, dois rapazes e uma rapariga, Maria.
Maria é o centro da nossa história. Tem vinte anos, mas não consegue comportar-se como a maioria das pessoas da sua idade. Quase nunca diz o que pensa, nem pede o que quer. Quase nunca diz a verdade embora nunca minta. Mata e não diz que matou. Sofre e não diz que sofreu. Não quer estar sozinha, mas não pede companhia. Ama, mas não sabe quem ama. Nasceu em Lisboa e nunca foi nem irá a outra cidade.
Maria quer estar sempre com os seus irmãos, mas não pode, porque o mundo não foi organizado assim. Maria quer aguentar tudo sozinha. Quer ser forte, tomar conta de todos. Guardar todos os segredos, os seus e os dos outros. Não é capaz, a dor é muito grande e ela não aguenta. Tem a polícia atrás dela, deixou de ter emprego. Tem de tomar conta do pai, alguém morreu e ela guardou segredo e tratou de tudo sozinha. No fim Maria toma uma decisão. É uma decisão brutal e definitiva.
Não é alegre esta história, mas às vezes a vida também é assim.
com Maria de Medeiros, Marcello Utghege, Laura Del Sol, Mireile Perrier, Evegni Sidihin, Olimpia Carlist, Fernando Reis Júnior, Luís Miguel Cintra
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7 de Julho, às 21.30, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG)
VENENO CURA de RAQUEL FREIRE
Portugal, 2008, 100’, M/16
Sinopse
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Segunda longa-metragem de Raquel Freire, depois de "Rasganço". "Veneno Cura" fala de um Porto em que se morre de amor e onde há um clube, o Imperatriz, onde tudo é permitido. Um momento em que todos se cruzam na noite escura.
Há um momento em que todos nos cruzamos. Na noite escura. Quando perdes tudo o que há para Perder, o que é que te faz continuar? O teu pior? O teu melhor? O que te impede de te atirares da ponte na primeira oportunidade? O que és capaz de fazer para sobreviver à mais terrível das dores? Amas com as tripas de fora. O que és capaz de fazer por amor? Como é que sobrevives com o coração partido? Quanto tempo dura um sentimento? Tem prazo? Já morreste de amor? Não se pode viver sem amor. O amor salva. O amor mata. O amor cura. Há um Porto onde se morre de amor. Há um clube onde tudo é permitido. Imperatriz. Vem.
com Sofia Marques, Susana Vidal, Sandra Rosado, Miguel Moreira, João Garcia Miguel, Gonçalo Amorim, Ana Ribeiro, Ana Margarida Carvalho
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